“Mas o que você faz?” Colocamos a clássica pergunta na berlinda para te convidar a pensar sobre a sua relação com o trabalho em uma perspectiva diferente. Afinal, não somos o nosso trabalho, embora o trabalho ocupe uma parte super importante das nossas vidas
Não ter tempo parece cada vez mais ter se tornado um sinônimo de status. O que ninguém diz é que todos temos 24 horas por dia, a diferença entre cada um de nós é como essas horas são distribuídas. Afinal, quem não tem tempo para uma coisa x, está dedicando o tempo a uma coisa y. Tempo é questão de prioridade e de modo de levar a vida.
A gente quer saber se tu Já Pensasse? que a exaustão tem sido tratada como uma espécie de medalha de honra. Dá pra conquistar os objetivos sem precisar ter burnout e a gente precisa pensar sobre isso juntos.
Trabalho e identidade “Mas o que você faz?”
Em algumas regiões do mundo, perguntar sobre trabalho no primeiro encontro é falta de educação. Em outras, o trabalho se confunde com a identidade do sujeito.
Choques culturais revelam muito sobre como o nosso modo de se comportar e até de encarar a vida – e o trabalho- são construções culturais. Em algumas regiões do mundo, perguntar sobre o trabalho nos primeiros encontros é considerado uma atitude invasiva e inadequada.
Na Espanha e na Itália, as perguntas sobre o trabalho só surgem depois de alguns encontros quando uma intimidade e confiança começam a se estabelecer. Já em lugares como Nova York, São Paulo e Recife, questões sobre o trabalho soam tão naturais quanto perguntar se a pessoa está bem – cá pra nós, outra convenção pra lá de questionável -.
O que nos faz pensar que a fatídica pergunta “O que você faz?” que mais parece falta de assunto, esconde algo muito maior: o trabalho reflete o valor humano em algumas sociedades. Sabe aquela velha frase “O trabalho dignifica o homem”… Bem que poderia vir acompanhada de “Mas o homem não só vive para trabalhar”.
E não estamos advogando contra o trabalho. De jeito nenhum. Amamos trabalhar, tanto que criamos lugares essencialmente pensados para o trabalho e a produtividade. Mas é aí que vem a nossa grande virada de chave. Não acreditamos em uma vida voltada somente para o trabalho e por isso mesmo somos um espaço em que vida e trabalho fazem as pazes em um dia a dia mais integrado e feliz.
Como iniciar uma conversa sem perguntar o que a pessoa faz
Soa tão natural perguntar sobre o trabalho no início de uma conversa que ficamos nos perguntando como fazer diferente.
Claaaro que existe um jeito pra isso. Do contrário, conversas nunca iniciariam na Itália e na Espanha.
Que tal iniciar uma conversa diferente, sem cair na zona de conforto de repetir o roteiro de sempre?
Para isso, pergunte sobre o que a pessoa gosta de fazer. Qual o tipo de música que ela gosta, quais os lugares que ela já visitou e que mais gostou, como ela gosta de aproveitar o tempo livre e por aí vai…
Histórias de vida e interesses pessoais são dois pontos importantes para as pessoas se conectarem. Invista nisso e vamos ser feliz completamente, com o trabalho ocupando um papel importante, mas sem ser o centro da nossa vida.
Você tem tempo? Porque não ter tempo para nada virou sinônimo de status
O que mudaria no mundo se ninguém mais achasse que não ter tempo é um tipo esquisito de status? Parece que a frase vem junto com uma satisfação enorme de saber que somos pessoas requisitadas, cheias de compromisso e sem tempo para a vida além do trabalho e das obrigações domésticas.
Quem passou por um isolamento mais intenso nesse período de pandemia, sabe bem que a relação com o tempo mudou. Estamos destreinados para ter compromissos na rua ou simplesmente lotamos a nossa rotina com afazeres porque foi a única coisa que nos restou com o isolamento social?
O tempo é um conceito elástico e criado por nós para organizar a vida em ciclos, como a natureza se organiza em suas estações definidas. Com a sua elasticidade por seu próprio caráter relacional, o tempo pode nos surpreender quando menos esperamos.
É espantoso, por exemplo, pensar que criamos vacinas para um novo vírus que parecia imbatível em apenas 10 meses. Um trabalho que normalmente seria feito em 10 anos de estudos foi feito rapidamente e não só por um, mas por diversos laboratórios espalhados pelo mundo.
Quando falamos que não temos tempo, em seguida deveríamos nos perguntar: não temos tempo para quê? Porque todo dia tem 24 horas que estão sendo usadas de algum modo com alguma finalidade.
Então quando não temos tempo, por exemplo, para ir ao dentista ou encontrar os amigos, na verdade não estamos priorizando essas atividades em detrimento de outras, não é mesmo?